""

“Nada de Novo no Front”, produção germânica, é o filme com mais indicações ao Bafta, o Oscar britânico

Por Maria do Rosário Caetano

“Nada de Novo no Front” (foto), épico de guerra de Edward Berger, produzido por alemães (entre eles o ator Daniel Brühl) e Netflix, é o recordista de indicações (14 categorias) ao Bafta, irmão gêmeo do Oscar. Afinal, o prêmio fala a mesma língua (o inglês) da Academia de Hollywood e de sua estatueta e trata as produções da ex-colônia, os EUA, como prata-da-casa.

Dos cinco finalistas na categoria “melhor filme”, quatro são produções originárias dos EUA e da Grã-Bretanha – o ótimo “Os Banshees de Inisherin”, de Martin McDonagh, o videogame movie “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert (10 indicações cada), a cinebiografia “Elvis”, de Baz Luhrmann (com nove) e “Tár”, de Todd Field (cinco).

Milagrosamente – até porque, depois do Brexit, a Grã-Bretanha não faz mais parte de Comunidade Econômica Europeia – o germânico “Nada de Novo no Front” recebeu o destaque merecido e tirou vaga de blockbusters como “Avatar – Caminho das Águas” e “Top Gun Maverick”.

Os britânicos, que entregarão sua estatueta em 19 de fevereiro, só destinaram a estes dois arrasa-quarteirão prêmios técnicos e em raras categorias. Mesmo caso de “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg, e “Pantera Negra 2 – Wakanda para Sempre”, de Ryan Coogler. Como o Oscar costuma indicar até nove produções na categoria melhor filme (contra os cinco do Bafta), “Os Fabelmans”, “Avatar 2”, “Top Gun” e “Pantera Negra 2” decerto serão aquinhoados.

A lista britânica abre modesto espaço para alguns filmes europeus e/ou asiáticos em sua sua lista de finalistas – caso do sueco “Triângulo da Tristeza”, Palma de Ouro em Cannes, e o coreano “Decisão de Partir”, o mais laureado dos filmes de Park Chan-wook (indicado ao Bafta de melhor filme estrangeiro e à prestigiosa categoria de melhor diretor).

Um dos filmes da hora – o criativo e pulsante “RRR (Revolta, Rebelião, Revolução)” – produção indiana comanda por S.S. Rajamouli, foi solenemente ignorado pelo Bafta. Não conseguiu vaga nem com as empolgantes músicas de sua trilha, capaz de ressuscitar os mortos. Nem seus figurinos exuberantes foram lembrados.

E por que?

Porque a saga libertária indiana é muito crítica ao imperialismo britânico. No filme, os ingleses são vistos como colonialistas, exploradores e eugenistas. Com empáfia de maior império do mundo (aquele onde o Sol não se punha) tratavam os povos de sua imensa colônia asiática como “lixo humano”. Até as pedras sabem que os britânicos crêem que foram “ótimos colonizadores”, por terem transformado os países por eles dominados em “grandes democracias liberais”.

No terreno do melhor filme estrangeiro, além de “Decisão de Partir”, brilham “Argentina, 1985”, um Darin movie que vem conquistando o mundo em tempos de crescimento da extrema-direita, o badaladíssimo “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger, e duas surpresas – “Corsage”, da austríaca Marie Kreutzer, e o irlandês “A Menina Silenciosa”, de Colm Bairéad (falado em gaélico, senão não caberia na lista).

No terreno do documentário, dois títulos são os favoritos: o canadense “Vulcões: A Tragédia de Kátia e Maurice Kraft”, de Sara Doisa, e o estadunidense “All the Beauty and Bloodshed” (“Toda a Beleza e o Sangue Derramado”), de Laura Poitras, vencedor do Leão de Ouro em Veneza. Mas há que se prestar atenção no indiano “All That Breathes” (“Tudo que Respira”), de Shaunak Sen. Ele, afinal, ganhou o Olho de Ouro, em Cannes, e foi escolhido como o melhor longa documental do Sundance. No centro de sua trama, dois irmãos da populosa Nova Déli, que cuidam de pássaros.

“Moonage Daydream”, sobre a lisérgica trajetória musical do astro inglês David Bowie, direção de Brett Morgan, pode surpreender, pois trata-se de prata-da-casa.

“Navalny”, de Daniel Roher, documentário em clima de thriller, cumpre papel mais político que estético, pois seu protagonista (Alexey Nalvany) é opositor ferrenho de Vladimir Putin. Ele e a mulher, se fossem menos midiáticos e aparícios, dariam mais consistência ao filme.

No campo da produção britânica, para a qual o Bafta designa (algumas) categorias especiais, destacam-se três títulos. Primeiro, “Living”, que o Nobel de Literatura nipo-inglês Kazuo Ishiguro escreveu a partir do clássico “Viver” (1952), de Akira Kurosawa (sendo ambos baseados em “A Morte de Ivan Ilyich”, de Liev Tolstoi), aparece em significativas categorias – melhor filme britânico e melhor ator (Bill Night, com chances de derrotar astros de Hollywood).

O outro é “Aftersun”, longa de estreia de Charlotte Wells, que vem fazendo significativa carreira nos cinemas brasileiros (mais de 40 mil espectadores). Sua estreia, entre nós, se deu na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na qual conquistou o Troféu Bandeira Paulista, atribuído pelo júri oficial a obras de realizadores de até segundo filme.

Um cineasta chileno, Sebastián Lelio (de “Glória” e do oscarizado “Uma Mulher Fantástica”),  figura entre os diretores dos dez longas britânicos finalistas. Por causa de “O Milagre”. Seu filme produzido no Reino Unido é um drama histórico, banhado em mistério.

Em 1862, uma enfermeira inglesa, assombrada por seu passado, vai até um vilarejo irlandês investigar o jejum, supostamente milagroso, de uma jovem. Disponível na Netflix, o filme vem conquistando plateia de respeito. Lélio, depois do Oscar internacional, parece ter trocado seu idioma natal (o espanhol) pelo inglês. Isto, deloiscdd realizar, com Juliane Moore de protagonista, um remake de “Gloria” (“Gloria Bell”, 2018). “O Milagre” é uma produção da Grã-Bretanha.

Uma curiosidade: Sam Mendes, dos badaladíssimos “Beleza Americana”, “1917” e de dois títulos da franquia 007, parece ter deixado a primeira divisão do Oscar e do Bafta. Seu “Empire of Ligth” (“Império da Luz”) é apenas um dos dez concorrentes da prata-da-casa e destaca-se em parcas categorias.

Confira os finalistas:

Melhor filme

. “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger (Alemanha)
. “Os Banshees de Inisherin”, de Martin McDonagh (Grã-Bretanha)
. “Elvis”, de Baz Lurhmann (EUA)
. “Tár”, de Todd Field (EUA)
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert (EUA)

Melhor documentário

. “Vulcões: A Tragédia de Kátia e Maurice Kraft”, de Sara Doisa (Canadá)
. “All the Beauty and Bloodshed” (Toda a Beleza e o Sangue Derramado”), de Laura Poitras (EUA)
. “Moonage Daydream (David Bowie)”, de Brett Morgan (Grã-Bretanha)
. “All That Breathes” (“Tudo Que Respira”), de Shaunak Sen (Índia/EUA)
. “Navalny”, de Daniel Roher (EUA)

Melhor filme estrangeiro

. “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger (Alemanha)
. “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre (Argentina)
. “Corsage”, de Marie Kreutzer (Áustria)
. “Decisão de Partir”, de Park Chan-woo (Coreia do Sul)
. “A Menina Silenciosa”, de Colm Baireád (Irlanda)

Melhor longa de animação

. “Pinoquio de Del Toro”, de Guillermo del Toro e Mark Gustafson
. “Marcel the Shell With Shoes On”, de Dean Fleischer Camp (EUA)
. “O Gato de Botas 2: O Último Pedido”, de Joel Crawford (EUA)
. “Red: Crescer é uma Fera”, de Domee Shi (EUA)

Melhor filme britânico

. “Living”, de Oliver Hermanus
. “Os Banshees de Inisherin”, de Martin McDonagh
. “Aftersun”, de Charlotte Wells
. “Empire of Ligth” (“Império da Luz”), de Sam Mendes
. “O Milagre”, de Sebastián Lelio
. “Brian e Charles”, de Jim Archer
. “Boa Sorte, Leo Grande”, de Sophie Hyde
. “Veja Como Eles Correm”, de Tom George
. “As Nadadoras”, de Sally El Hosaini
. “Matilda, o Musical”, de Matthew Warchus

Melhor diretor

. Edward Berger (“Nada de Novo no Front”)
. Martin McDonagh (“Os Banshees de Inisherin”)
. Park Chan-wook (“Decisão de Partir”)
. Todd Field (“Tár”)
. Gina Prince-Bythewood (“A Mulher Rei”)
. Daniel Kwan e Daniel Scheinert (“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”)

Melhor atriz

. Cate Blanchett (“Tár”)
. Viola Davis (“A Mulher Rei”)
. Ana de Armas (Blonde”)
. Danielle Deadwyler (“Till – A Busca da Justiça”)
. Emma Thompson (“Boa Sorte, Leo grande”)
. Michelle Yeoh (“Tudo em todo Lugar ao Mesmo Tempo)

Melhor ator

. Bill Night (“Living”)
. Austin Butler (“Elvis”)
. Colin Farrell (Os Banshees de Inisherim”)
. Paul Mescal (“Aftersun”)
. Brendan Fraser (“A Baleia”)
. Daryl McCormack (Boa Sorte, Leo Grande”)

Melhor atriz coadjuvante

. Angela Bassett (“Pantera Negra 2”)
. Dolly de Leon (“Triângulo da Tristeza”)
. Hong Chau (“A Baleia”)
. Carey Mulligan (“Ela Disse”)
. Kerry Condon (“Os Banshees de Inisherin”)
. Jamie Le Curtis (“Tudo em Todo Tempo…)

Melhor ator coadjuvante

. Brendam Gleeson (“Os Banshees de Inisherin”)
. Barry Keoghan (“Os Banshees de Inisherin”)
. Michael Ward (“Empire of Light”)
. Eddie Redmayne (“O Enfermeiro da Noite”)
. Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
. Albrecht Shuch (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)

Melhor elenco (conjunto)

. “Nada de Novo no Front” (Alemanha)
. “Triângulo da Tristeza” (Suécia)
. “Aftersun” (Grã-Bretanha)
. “Elvis” (EUA)
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (EUA)

Melhor roteiro original

. “Triângulo da Tristeza” (Ruben Östlund)
. “Tár” (Todd Field)
. “Os Banshees de Inisherin” (Martin McDonagh)
. “Os Fabelmans” (Spielberg e Tony Kushner)
. “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” (Daniel Kwan e Daniel Scheinert)

Melhor roteiro adaptado

. Kazuo Ishiguro (“Living” – Viver)
. Ian Stokell, Lesley Paterson e Edward Berger (“Nada de Novo no Front”)
. Rebecca Lenkiewicz (“Ela Disse”)
. Samuel D. Hunter (“A Baleia”)
. Colm Bairéad e Claire Keegan (“A Menina Silenciosa”)

Melhor Fotografia

. “Nada de Novo no Front”
. “Empire of Light” (Império da Luz”)
. “Elvis”
. “Top Gun: Maverick”
. The Batman”

Melhor Trilha Sonora

. “Nada de Novo no Front”
. “Os Banshees de Inisherin”
. “Pinóquio de Del Toro”
. “Babilônia”
. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”

Melhor Montagem

. “Nada de Novo no Front” (Alemanha)
. “Os Banshees de Inisherin” (Grã-Bretanha)
. “Elvis” (EUA)
. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (EUA)
. “Top Gun: Maverick” (EUA)

Melhor Figurino

. Nada de Novo no Front
. Babilônia
. Sra. Harris Vai a Paris
. Amsterdam
. Elvis

Melhor som

. Nada de Novo no Front
. Tár
. Avatar: o Caminho das Águas
. Elvis
. Top Gun: Maverick

Cabelo e Maquiagem

. Nada de Novo no Front
. A Baleia
. Matilda: O Musical
. Elvis
. The Batman

Melhor Design de Produção

. Nada de Novo no Front
. Babilônia
. Elvis
. Pinóquio de Del Toro
. The Batman

Melhores efeitos visuais

. Nada de Novo no Front
. Avatar: o Caminho das Águas
. The Batman
. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
. Top Gun: Maverick

Melhor Estreia (Roteirista, Diretor ou Produtor Britânico)

. Maria KenWorthy (“Rebellion”)
. Charlotte Wells (“Aftersun”)
. Georgia Oakley e Hélène Sifre (“Blue Jeans”)
. Marie Lidén (“Eletric Malady”)
. Katy Brand (“Boa Sorte, Leo Grande”)

Estrela em ascensão (votação popular)

. Aimee Lou Wood (“Living”)
. Emma Mackey (“Emily”)
. Naomi Ackie (“A História de Whitney Houston”)
. Sheila Atim (“A Mulher Rei”)
. Daryl McComack (“Boa Sorte, Leo Grande”)

Previous post O ATOR YANN DUFAU CONCORRE COMO MELHOR ATOR COADJUVANTE NO PRÊMIO ‘DESTAQUES MUSICAL RIO 2022’
Next post Paulo Nascimento roda novo filme em Porto Alegre